Tonino Guerra
Este blogue prima pela partilha de conhecimentos. Agradeço, portanto, ao Henrique por me ter dado a conhecer este grande senhor, Tonino Guerra.
Nascido em 1920, em Sant'Arcangelo di Romagna, Tonino Guerra é hoje mais conhecido pelo seu brilhante trabalho como argumentista.
Contudo, afirma: "a fama que os meus argumentos me deram por mérito dos realizadores deixou um pouquinho na penumbra aquela que é a minha única paixão: a minha tentativa de ser poeta. Até no andar se pode ser poeta, mas é claro que hoje toda a gente me conhece como argumentista."
Contudo, afirma: "a fama que os meus argumentos me deram por mérito dos realizadores deixou um pouquinho na penumbra aquela que é a minha única paixão: a minha tentativa de ser poeta. Até no andar se pode ser poeta, mas é claro que hoje toda a gente me conhece como argumentista."
Fica então a entrevista dada por Tonino Guerra a Carlos Vaz Marques, no programa "Pessoal e Transmissível" da TSF, a 2 de Agosto de 2007, para que se perceba a genialidade das suas palavras.
Mais abaixo, excertos da entrevista que mais me marcaram...
Mais abaixo, excertos da entrevista que mais me marcaram...
Ouvir entrevista
«(Carlos Vaz Marques) Li uma entrevista sua em que diz que a poesia se encontra cada vez menos nos livros de poemas. Onde é que ela está então, Tonino Guerra?
(Tonino Guerra) A poesia não é algo que rima. A poesia está em todas as coisas. Está num gesto, está num olhar, está pela rua... basta recolhê-la, essa é a questão. A poesia ajuda-nos a recolher algo que nos está próximo, que passa, qualquer coisa trazida pelo vento.
(...) (CVM) Considera-se um poeta por escrever poesia ou sente-se poeta num outro sentido qualquer?
(TG) Considero-me poeta sobretudo quando caminho. Sobretudo quando vejo a nevar ou quando fico a escutar a chuva. O resto é um comentário, são apenas vestígios, nada mais do que isso...
(...)
(CVM) Já escreveu em tempos até que a morte nem sequer é maçadora. Só aparece vez.
(TG) É verdade! É uma frase que ouvi de um homem num 1º de Novembro quando em Itália toda a gente vai aos cemitérios. Eu andava a passeaar pelo campo, não gosto de ir aos cemitérios, são muito feios, cheios de fotografias, muito "technic colour", sem poesia nenhuma. Vejo então este homem a trabalhar e digo-lhe: "Vim até ao campo porque não gosto de cemitérios. Tenho medo da morte.". O homem parou de trabalhar e disse-me: "Medo?! Mas porquê?! A morte não é maçadora. Só nos visita uma vez."»
(Tonino Guerra) A poesia não é algo que rima. A poesia está em todas as coisas. Está num gesto, está num olhar, está pela rua... basta recolhê-la, essa é a questão. A poesia ajuda-nos a recolher algo que nos está próximo, que passa, qualquer coisa trazida pelo vento.
(...) (CVM) Considera-se um poeta por escrever poesia ou sente-se poeta num outro sentido qualquer?
(TG) Considero-me poeta sobretudo quando caminho. Sobretudo quando vejo a nevar ou quando fico a escutar a chuva. O resto é um comentário, são apenas vestígios, nada mais do que isso...
(...)
(CVM) Já escreveu em tempos até que a morte nem sequer é maçadora. Só aparece vez.
(TG) É verdade! É uma frase que ouvi de um homem num 1º de Novembro quando em Itália toda a gente vai aos cemitérios. Eu andava a passeaar pelo campo, não gosto de ir aos cemitérios, são muito feios, cheios de fotografias, muito "technic colour", sem poesia nenhuma. Vejo então este homem a trabalhar e digo-lhe: "Vim até ao campo porque não gosto de cemitérios. Tenho medo da morte.". O homem parou de trabalhar e disse-me: "Medo?! Mas porquê?! A morte não é maçadora. Só nos visita uma vez."»
3 comentários:
não conhecia este senhor...vou buscar os textos dele para saber mais sobre como escreve pq te faz admirar tantoo....beijo
Ângela,
Tenho o prazer de conhecer alguém que conhece pessoalmente Tonino Guerra.
Uma vez contou-me a seguinte história que se passou com ele (que é sacerdote e vive em roma)...
Logo depois de ele ter tido o prazer (juntamente com outro sacerdote) de conhecer Tonino Guerra, quando chegou a casa, ele telefonou-lhes a dizer:
"Que tinha acabado de fazer amizade com as duas unicas pessoas que tinham serias hipoteses de irem parar ao inferno!"
Quando lhe perguntaram por que razão dizia aquilo, ele respondeu:
"Porque vocês são as unicas pessoas, com quem me dou, que acreditam no inferno"
:D :D
Genial!!
Que boa risada devem ter dado!!!
É por estes pequenos episódios que se percebe a vivacidade e autenticidade de uma pessoa!! =D
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