quinta-feira, 25 de março de 2010

Genialidade dita por outras palavras... II

Tonino Guerra


Este blogue prima pela partilha de conhecimentos. Agradeço, portanto, ao Henrique por me ter dado a conhecer este grande senhor, Tonino Guerra.

Nascido em 1920, em Sant'Arcangelo di Romagna, Tonino Guerra é hoje mais conhecido pelo seu brilhante trabalho como argumentista.
Contudo, afirma: "a fama que os meus argumentos me deram por mérito dos realizadores deixou um pouquinho na penumbra aquela que é a minha única paixão: a minha tentativa de ser poeta. Até no andar se pode ser poeta, mas é claro que hoje toda a gente me conhece como argumentista."

Fica então a entrevista dada por Tonino Guerra a Carlos Vaz Marques, no programa "Pessoal e Transmissível" da TSF, a 2 de Agosto de 2007, para que se perceba a genialidade das suas palavras.
Mais abaixo, excertos da entrevista que mais me marcaram...


Ouvir entrevista

«(Carlos Vaz Marques) Li uma entrevista sua em que diz que a poesia se encontra cada vez menos nos livros de poemas. Onde é que ela está então, Tonino Guerra?

(Tonino Guerra) A poesia não é algo que rima. A poesia está em todas as coisas. Está num gesto, está num olhar, está pela rua... basta recolhê-la, essa é a questão. A poesia ajuda-nos a recolher algo que nos está próximo, que passa, qualquer coisa trazida pelo vento.

(...) (CVM) Considera-se um poeta por escrever poesia ou sente-se poeta num outro sentido qualquer?

(TG) Considero-me poeta sobretudo quando caminho. Sobretudo quando vejo a nevar ou quando fico a escutar a chuva. O resto é um comentário, são apenas vestígios, nada mais do que isso...

(...)

(CVM) Já escreveu em tempos até que a morte nem sequer é maçadora. Só aparece vez.


(TG) É verdade! É uma frase que ouvi de um homem num 1º de Novembro quando em Itália toda a gente vai aos cemitérios. Eu andava a passeaar pelo campo, não gosto de ir aos cemitérios, são muito feios, cheios de fotografias, muito "technic colour", sem poesia nenhuma. Vejo então este homem a trabalhar e digo-lhe: "Vim até ao campo porque não gosto de cemitérios. Tenho medo da morte.". O homem parou de trabalhar e disse-me: "Medo?! Mas porquê?! A morte não é maçadora. Só nos visita uma vez."»



3 comentários:

J^^h Dagort disse...

não conhecia este senhor...vou buscar os textos dele para saber mais sobre como escreve pq te faz admirar tantoo....beijo

Henrique Ferreira disse...

Ângela,

Tenho o prazer de conhecer alguém que conhece pessoalmente Tonino Guerra.

Uma vez contou-me a seguinte história que se passou com ele (que é sacerdote e vive em roma)...


Logo depois de ele ter tido o prazer (juntamente com outro sacerdote) de conhecer Tonino Guerra, quando chegou a casa, ele telefonou-lhes a dizer:

"Que tinha acabado de fazer amizade com as duas unicas pessoas que tinham serias hipoteses de irem parar ao inferno!"

Quando lhe perguntaram por que razão dizia aquilo, ele respondeu:

"Porque vocês são as unicas pessoas, com quem me dou, que acreditam no inferno"

Ângela disse...

:D :D
Genial!!
Que boa risada devem ter dado!!!
É por estes pequenos episódios que se percebe a vivacidade e autenticidade de uma pessoa!! =D