segunda-feira, 22 de março de 2010

Porquê voluntariado com animais?


Eu vivo na era das dúvidas…
Há muito que deixei as certezas para trás… Quem não tem dúvidas também não tem motivação para o diálogo que é a única chave capaz de abrir possibilidades alternativas de compreensão, a única maneira de evitar o exercício da bestialidade.
Vivemos centrados no nosso ego, abstraídos do que nos rodeia, abstraídos dos outros que apenas servem para nos fazer tropeçar no nosso caminho cada dia mais só, mais vazio, mais distante…

Hoje em dia exercemos um moralismo cínico universalizado, de teorias que não passam do papel e vozes que falam num silêncio mudo quando chega à hora de agir… Um silêncio cúmplice e condenável que consente as atrocidades que presenciamos diariamente e às quais nos habituamos a ficar indiferentes, num entorpecimento constante onde é mais fácil virar a cara ao lado…
Assim nos arrastamos num dia-a-dia de preocupações banais, cegos, surdos e mudos para com o sofrimento alheio….

Não consigo conceber um mundo em que nada tenha mais valor do que a nossa própria existência e onde tudo o resto são apenas meros danos colaterais. Senti que precisava de fazer alguma diferença... a minha diferença. Um gesto só bastava. Um gesto só podia fazer toda a diferença, porque mesmo a mais longa das caminhadas começas com um simples passo. E porquê com animais?...

Porque não? Porque a generosidade é uma grandeza que ultrapassa a fronteira do credo, do género, da raça é até mesmo da espécie. A dor, a alegria, a tristeza e o prazer são sentimentos comuns a muitos dos seres vivos que povoam o nosso planeta. Não são exclusivos ao ser humano. Porque é que os sentimentos e as necessidades de um animal, seja ele qual for, hão-de ser menos considerados que os nossos? Será apenas porque somos a espécie mais dominante? Ou não teríamos nós, como essa mesma espécie, o dever de usar o "dom" da inteligência em prol do beneficio de todos os que habitam este mundo. Não devíamos nós, que somos capazes de estabelecer raciocínios elaborados, ter a capacidade de perceber e respeitar as necessidades alheias?

Depois de termos começado a perceber que que o sexismo e o racismo são valores sem sentido e completamente ultrapassados, será que não estará também na altura que quebrarmos a barreira do especísmo*?

Deixo-vos a resposta a esta pergunta para vossa consideração...

Até breve,

Elsa Cunha

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*Especismo - é a atribuição de valores ou direitos diferentes a seres dependendo da sua afiliação a determinada espécie. O termo foi cunhado e é usado principalmente por defensores dos direitos animais para se referir à discriminação que envolve atribuir a animais sencientes diferentes valores e direitos baseados na sua espécie, nomeadamente quanto ao direito de propriedade ou posse. De modo similar ao sexismo e ao racismo, a discriminação especista pressupõe que os interesses de um indivíduo são de menor importância pelo mero feito de se pertencer a uma determinada espécie. De acordo com a igual consideração de interesses, de qualquer que seja a espécie os interesses semelhantes devem ser respeitados. Inferir dor num animal sem se preocupar com isso, é ignorar o princípio básico da igualdade, que parte da premissa da igual consideração de interesses. (FONTE: Wikipédia - http://pt.wikipedia.org/wiki/Especismo)

4 comentários:

Henrique Ferreira disse...

Elsa,

Sem dúvida, tal como diz no post, a sociedade vive,infelizmente, pregando o "moralismo cínico", e são cada vez mais,o número de pessoas que se dão ao luxo de comprar animais a preços absurdos, numa qualquer "petshop", como se de uma mala "louis vuitton" se tratasse, para ostentar perante os amigos o seu poder de compra.

E são cada vez mais, em tempo de férias, o número de animais abandonados por este país fora!

Triste sociedade que vive comandada por valores deste tipo!

Celina disse...

Tudo muito bem, concordo plenamente que não devemos tratar os animais de forma inferior, no entanto, também não podemos virar costas ao sexismo, ao racismo e a tantos outros "ismos" que afectam directamente tantos seres humanos.

Henrique Ferreira disse...

Celina,

Caso esteja interessada em participar neste Conclave, por favor deixe-nos o seu mail para podermos enviar o convite!

Poderá faze-lo através desta caixa ou enviar para henriquepauloferreira@gmail.com

Gostariamos de a ter como nossa dEUSA, neste conclave.

Elsa Cunha disse...

Celina,
Tem toda a razão, mas pelo facto de nos dedicarmos mais a uma causa, não significa que abandonemos as outras. Ninguém, mais do que eu, se opões a qualquer tipo de atitudes discriminatórias, sejam elas quais forem. Apenas me dedico mais àquela que me parece ser ainda menos consensual na nossa sociedade, pois para a maioria das pessoas ainda é impensável parar um carro e socorrer um animal que se acabou de atropelar... nem que ele fique dias na berma a morrer aos bocadinhos...