O "filme noir" ou o "thriller" é hoje o género predilecto para os exercícios. Quem (já) não sabe o que filmar, filma um "thriller" — que o digam os irmãos Coen. Natural, portanto, que se parta para "Memento" com desconfiança — ou que ela, inclusive, sabote a inocência de quem olha —, principalmente tendo em conta que o filme de Christopher Nolan adquiriu um certo prestígio de culto (sabe-se onde é que isso, depois, vai dar — que o digam, de novo, os Coen). É verdade que "Memento" sofre do vício daqueles filmes em que as personagens (e, com elas, o espectador...) sabem de menos — é que nesses casos, o realizador sabe demais, e é difícil resistir à tentação do jogo e da manipulação. Mas, de facto, não há por aqui apenas maquilhagem pós-moderna. História de um homem em perda — das suas recordações, da sua identidade —, coloca o espectador nessa experiência de "desertificação" de referências. Estamos condenados, como o protagonista, a rebobinar obsessivamente o filme da nossa memória. No deserto de referências (também é questão de paisagem: Los Angeles árida e sem nome, é tratada com a mesma crispação de "O Falcão Inglês", de Steven Soderbergh, por exemplo), "Memento" tenta encontrar o seu caminho através de uma escrita tortuosa e exploratória — como a pele do protagonista que ele rasga com as tatuagens que lhe dão os sinais de que, afinal, existe.
4 comentários:
Um dos meus filmes favoritos, uma obra prima cinematográfica. Embora tenha passado ao lado dos grandes sucessos de bilheteira, aqui está um dos melhores filmes feitos até hoje no meu ver. Recomendo que vejam...
Então amigo AP (bons olhos o vejam!), quando é que fazes a pazes com o conclave?
Aguardamos seriamente que voltes a postar neste espaço! Ficamos aguardar...
Abraço amigo!
oh tio desculpa lá mas com essa do "abraço amigo" pareces um representante do partido comunista!
vi e gostei tb :)
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