Dois anos mais tarde, reencontrei novamente Haruki Murakami. Sputnik, Meu Amor foi o meu primeiro contacto com o popular escritor japonês: uma obra que achei razoável, mas que não me tinha fascinado ao ponto de a colocar – nem ao autor – num patamar elevado, talvez porque na altura estava a ler obras de outros autores que aprecio mais, ou porque simplesmente o livro não era aquele que eu deveria ter escolhido para me iniciar no mundo de Murakami. Não sei ao certo a resposta, mas Norwegian Wood teve um impacto em mim que não esperava.
O romance tem lugar nos anos 60 e retrata a vida de Toru Watanabe, um jovem que acaba de se mudar para uma Universidade privada em Tóquio. Mas as primeiras páginas do livro não se passam no Japão nem nos anos 60; passam-se na Alemanha dos anos 80 onde a nossa personagem principal recorda com carinho e muita nostalgia os tempos que viveu na faculdade, os amigos que tinha, o modo de vida que promíscuo que adoptava e o grande amor da sua vida: Naoko. Ao longo da obra são-nos dados a conhecer o Japão que conhecemos, desde o nacionalismo, revoluções nas universidades (creio que aconteceram mesmo) - que não resultaram em nada e cujos resultados das mesmas foram o regresso à extremamente bem organizada vida - e uma “estranha” admiração do autor pela literatura e música do ocidente. A verdade é que as personagens lêem constantemente livros de autores europeus e norte-americanos (Thomas Mann, John Updike, Hermann Hesse, Joseph Conrad, Fitzgerald…) do mesmo modo que consomem música clássica e a pop dos Beatles, que como se sabe têm uma canção com o mesmo nome deste livro. Watanabe e os seus amigos divertem-se a beber em excesso, a tocar guitarra e cantarolar canções dos Beatles e de outras bandas do género da época – lembremo-nos que decorria a guerra do Vietname -, enquanto o resto da sociedade japonesa vive como a conhecemos: pontual, rigorosa e extremamente metódica.
De facto, esta atracção do autor pelo ocidente tem-lhe causado variadíssimas críticas por parte da crítica japonesa de há muitos anos para cá… Mas a verdade é que o Ocidente, especialmente a literatura britânica e norte-americana, sempre esteve bem servida em termos de criativos e, portanto, não me estranha nada que este mesmo escritor tenha outro livro intitulado Kafka à Beira-mar. Não obstante as referências ocidentais, esta obra está repleta de referências ao dia-a-dia japonês da década de 60 e 70, de pormenores deliciosos e surpreendentes diálogos por parte de personagens diferentes mas igualmente interessantes (sem esquecer a sumptuosa forma como as montanhas e as cidades são descritas, especialmente no inverno). Não perca mais tempo a ler as minhas palavras: descubra a beleza melancólica de Norwegian Wood Hpor si mesmo.
2 comentários:
Simão,
Antes de mais, quero felicita-lo por ter acedido ao nosso convite e desejar que a sua estadia por este Conclave se prolongue por muitos anos! LOL
Quanto ao autor escolhido (Haruki Murakami), o mesmo "Impacto" tive eu, quando li, dele, "Kafka à beira mar"! Surprendente na escrita e brilhante na forma como conta a suas estóris!
PS.: Aguardo ansiosamente a sua próxima critica (Sugestão: - que tal Lobo Antunes? LOL)
Olá, Henrique. Tudo bem?
E um prazer participar neste blog e espero vir a fazê-lo muitas mais vezes. Depois do Murakami, já li o Fight Club do Chuck Palahniuk (posso dar opinião, mas como o filme é bem mais conhecido que o livro, não sei não!) e estou a ler o Alexandra Alpha, do José Cardoso Pires e quem sabe se em breve não pego em mais um tijolo do toni... :)
Entretanto, não se esqueça de ler "Os Kus de Judas" e "Memória de Elefante", para mim os mais acessíveis - não gosto de usar este termo. fazer com que o Lobo pareça um monstro! - mas o que realmente mais gostei de ler foi "A ordem natural das coisas".
Abraço!
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